Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

FUKANZAZENGUI - Parte 2

Muito bem!
Á partir de agora, vamos tentar esmiuçar o texto, palavra por palavra, frase por frase e sentença por sentença.

Ao longo de nosso estudo, poderemos compreender melhor a profundidade de Dogen.

Inicialmente é interessante saber que o O "fu" de "Fukan-zazengi" significa “Universalidade Expressa”.
Mestre Dogen, escreveu esse texto sobre como se sentar em zazen não apenas para os monges do seu tempo, mas para todas as pessoas dos tempos futuros.

Começa o Fukanzazengui com a parágrafo:
“Agora, quando procuramos a fonte do Caminho, descobrimos que é universal e absoluta. Torna-se desnecessário distinguir entre prática e iluminação. O ensinamento supremo é livre, então por que deveríamos estudar os meios de atingi-lo? Sem dúvida, o Caminho está bem longe da delusão. Por que, então, preocupar-nos com os meios de eliminá-la?...”

“Agora, quando procuramos a fonte do Caminho...”
Caminho budista ou caminho do Buda.
Caminho (tao, em chinês) também é usado como tradução para a palavra sânscrita Bodhi.
Também significa a Realidade para a qual o Buda despertou.
‘O Caminho’, no ideograma em japonês (Do), deseja dizer sobre o caminho ao longo do qual devemos retornar e seguir ao prosseguirmos com a nossa prática.
“Dō” – Caminho, senda, trilha espiritual.
O Karatê está imbuído de elementos provenientes do Zen.
O Karate é também chamado de "zen em movimento".
As aulas frequentemente começam e terminam com curtos períodos de zazen.
A repetição dos movimentos dos kata’s, é consistente com a meditação zen pretendendo maximizar a disciplina, a atenção e a concentração, mesmo em condições adversas.
Takahara foi o primeiro a falar sobre  a filosofia do “Dô“ nas martes marcais.
Takahara descreve as três vertentes que combinadas formam o ‘Do’ e culminam na evolução do praticante: Ijo, e katsu.
Ijo () pode ser expresso em atitudes pró-ativas. O ideograma Ijo também está relacionado á compaixão e humildade.
Fo ( ou ) é a dedicação que alguém tem para com algo; no caso, o afinco e a seriedade com que um Karateca treina e a devoção que nutre ao seu mestre e colegas.
Katsu() reflete-se na compreensão dos objetivos do Karate, que é transferir a sabedoria para a vida.
O conceito de “caminho” baseado nos princípios do Zen, é a fundamentação filosófica que dá a base para a prática física do Karate.

“...A fonte do caminho, descobrimos que é universal e absoluta....”
Absoluto, em Filosofia, é definido como a ‘realidade suprema e fundamental’.
Na Filosofia analítica e na filosofia pragmática, absoluto é tudo aquilo que não deixa dúvidas quanto a sua completude.
A palavra ‘Absoluto’ no ocidente vem do latim ‘solutus ab omni re’ - O que é ‘em si e por si’, independentemente de qualquer outra consideração ou condição.
No meu parco entendimento, o que Dogen quis dizer com as palavras ‘universal e absoluta’ é que a Natureza Buda é o princípio fundamental existente em todos os seres e completo por sí mesmo.

Shunryu Suzuki no livro: Mente Zen, Mente de Principiante declara:
‘Buda não aceitou as religiões que existiam na sua época. Não encontrou respostas no ascetismo nem na filosofia praticada. Buda não estava interessado nos aspectos metafísicos da existência, e sim em seu próprio corpo e mente. Quando encontrou a si mesmo, descobriu que tudo quanto existe tem natureza búdica. Esse foi o seu despertar, a sua iluminação. Iluminação não é um estado particular da mente. Essa é a fonte do caminho, a inata Natureza Buda. É universal porque a todos pertence. É absoluta porque é perfeita e completa’ (*) (*) Grifo nosso.

“...Torna-se desnecessário distinguir entre prática e iluminação...Como podemos diferenciar a prática da iluminação?...
O Zen está além de todo e qualquer dualismo.
Por sua simplicidade, dá acesso ao estado absoluto da sabedoria completa e perfeita.
É aqui que a importância do zazen assume toda a força.
Shikantaza, apenas sentar-se, sentar-se e mais nada.
O Zen é a filosofia da gratuidade, do não-lucro.
Todos, trabalhamos, para uma finalidade, por uma idéia, com um objetivo; cada qual quer dar e receber.
Mas só se atinge a verdadeira vida espiritual quando não se procura status ou lucro.
Quando não se distingue mais a prática da iluminação...

Consta no Gakudo Yojin-shu (Pontos a observar no Estudo do Caminho)
‘(...) O Buda ensina que na prática há iluminação. Nunca ouvi falar de alguém que tenha alcançado a iluminação sem praticar’.
‘(...) existem diferentes métodos de treinamento, baseados na fé ou na compreensão do Darma, na iluminação súbita ou gradual, ainda assim, a iluminação depende de treinamento’.
‘(...) Embora pratiquemos no mundo da delusão, esse também é o mundo da iluminação’.
‘Quando a iluminação está em harmonia com a prática, você não pode desmerecer nem mesmo uma simples partícula de poeira. Se agir dessa maneira você se afastará da iluminação tanto quanto o céu está afastado da terra’.

A palavra Zentai, em japonês, significa a Realidade como um todo, antes da divisão, antes da dualidade feita através da discriminação.
Na verdade não há nenhuma separação entre ilusão e iluminação.
Entre sim e não, entre sentar em zen e lavar os pratos.

“...O ensinamento supremo é livre, então por que deveríamos estudar os meios de atingi-lo?...”
É claro para as pessoas com um mínimo de percepção que a espiritualidade baseada unicamente no conhecimento intelectual, nas religiões e morais tradicionais são incapazes de fornecer linimento para nossas angústias e sofrimentos.
Desorientados, desequilibrados e sofridos, os seres buscam prazeres momentâneos e facilidades sociais.
Se apartam da essência espiritual e da Natureza Buda.
As contradições e insatisfações são numerosas, rompeu-se o equilíbrio natural.
A dualidade faz-se presente em todos os momentos de nossas tristes vidas...

“...Sem dúvida, o Caminho está bem longe da delusão. Por que, então, preocupar-nos com os meios de eliminá-lo?...”
O treinamento Zen está além da ciência, além da filosofia, além das normas e dos postulados.
No Zen, não meditamos sobre a existência ou a não-existência, sobre o sim ou o não, sobre o ser ou não ser...
Apenas vivemos o momento atual e tudo que está relacionado a esse instante fugidio.
 
Mestre Kodo Sawaki dizia:
‘Conduzir nossa vida é como andar de bicicleta. Uma boa prática faz-se necessária. Entretanto se o corpo e a mente estiverem rígidos, não conseguiremos andar. É necessário pedalar sem parar. Se não pedalarmos, não avançaremos, se executarmos uma manobra errada, ou pararmos de pedalar, cairemos’.
Deixar de observar o aqui-e-agora é como parar de pedalar.


Não deixem de ler a parte 3.






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