Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Fukanzazengui - parte 9

“... nosso corpo e nossa mente são naturalmente transcendidos...”
Dogen refere-se aqui à expressão shin jin datsu raku, frequentemente traduzido por “abandonar” ou “rejeitar corpo e mente”.
Ir além do corpo e da mente.
Taisen Deshimaru preferia usar a expressão: ‘derrubar corpo e mente’.
No Shobogenzo, Dogen definirá essa expressão dizendo que quando todos os seres sencientes tornam-se Budas, o corpo e a mente caem naturalmente.
Kodo Sawaki, definia a expressão shin jin datsu raku como ‘abandonar o que está dentro e o que está fora’.
   Numa referência a uma passagem com Mestre Nyojo, Dogen diz:
‘Mestre Nyojo não se irritava frequentemente. Mas se por acaso os monges estivessem praticando incorretamente, ele ficava verdadeiramente furioso’.
Um dia, no dojo, um monge, ao lado de Dogen adormeceu durante o zazen.
Furioso, Nyojo golpeia violentamente o dorminhoco com sua sandália e grita: "Shin jin datsu raku!" - Abandone corpo e mente...
Dogen ao assistir esse episódio chega a chorar de emoção.
Depois Dogen vai aos seus aposentos e repete ao mestre a mesma frase: 
“Corpo e mente abandonados”...
Nyojo, tendo percebido a realização de Dogen responde simplesmente:
  “Corpo e mente foram abandonados”
  
“…Se almejamos realizar a sabedoria de Buda, devemos começar a praticar imediatamente...”
Dogen continua a falar da importância da prática do zazen.
Com essa frase ele quer dizer, "Deveis praticar o zazen sem demora. Aqui e agora".
   Devemos começar com o que temos e somos.
   Sem demora.
   Na nossa escola, sentamos como Bodidharma, diantes de uma parede.
   Não cortamos nossos pensamentos nem fugimos deles.
   Nos sentamos em zazen sem nada querer, sem nada desejar o que quer que seja.
   Apenas nos sentamos o mais que pudermos.
   É o Zazen sem finalidade.
 Se praticarmos zazen com uma finalidade, ainda que pequenina, quase invisível, esse zazen não é o verdadeiro.
 Mas!!! Todos desejamos praticar o zen com alguma finalidade.
Temos uma necessidade imperiosa de achar razões para tudo que fazemos.
   Temos medo de que quando formos falar do zen, o que dizer...
 - Quer dizer que você pratica o Zen... Afinal o que é esse tal de Zen...nos pergunta alguém...
   Pronto! Ficamos imediatamente com cara de cachorro que caiu da mudança... O que responder...
   É preciso compreender que o zen é própria vida quotidiana; de outra forma, essa prática não teria o menor sentido.
O ensinamento zen é justamente de como viver neste mundo, nesta vida comum.

 “…Para fazer zazen, é desejável um local tranquilo...”
   O local de prática, não deve ser muito iluminado nem muito escuro, nem muito frio nem muito quente, nem seco nem úmido.
Todo Zendo é desprovido de quadros, flâmulas, som ambiente e luz excessiva, a prática zen requer concentração. Estímulos sensoriais fazem a mente se perder.
Possuímos uma série de ‘janelas’ abertas para o meio, estruturas que colocam o sistema nervoso em contato com os estímulos provenientes do ambiente: cheiro, imagens, sons, etc.
   Essas estruturas são os órgãos sensoriais. As informações referentes ao ambiente são percebidas por esses órgãos dos sentidos e continuamente enviadas ao encéfalo, na forma de impulsos nervosos. Esses órgãos sensoriais são transdutores, convertem uma forma de energia (som, luz, calor, etc.) em outra (impulso nervoso).
Ora! Se existem muitos estímulos o corpo não consegue relaxar e a mente, continuamente agredida com imagens, sons, cheiros, calor, frio etc não consegue repousar em si mesma, por isso Dogen adverte para que o local seja tranqüilo, agradável e tenha o mínimo de atrativos, sejam eles auditivos, visuais ou olfativos..

“...Devemos ser moderados no comer e no beber, abandonando todo relacionamento deludido...”
   Não devemos comer demais.
   Se comemos muito, adormeceremos facilmente.
   Não devemos nos sentar com muita fome.
   Se estamos com fome a necessidade de sobrevivência fala mais alto.
   Não devemos ingerir muito líquido.
 Se o fizermos ficaremos indispostos, enjoados.
   Devemos abandonar todos os pensamentos.
A prática do zazen consiste apenas em tornar-se presente na experiência de ser.
Não se trata de algo que se adquire depois de encerrado o período de zazen.
Não se trata de um conceito do processo mas, sim, de concentrar-se no próprio processo.
Desperto é aquele que se encontra ‘presente’ no presente. Que se encontra aqui-e-agora, que sabe que (seja lá o que for) só pode acontecer nesse ‘agora’, não ontem ou amanhã.
A vida real é agora, nesse exato momento...
 
“...Deixando tudo de lado, não pensemos nem no bem, nem no mal, nem no certo, nem no errado...”
za” significa sentar.
“zen” significa percepção consciente do aqui-e-agora.
“Zazen” significa sentar em profunda percepção consciente do que acontece dentro e fora do corpo.
 “Shikan” significa sinceridade.
“Taza” significa unir-se ao ato de estar apenas sentado.
  Shikantaza” significa sentar-se apenas, sem dualidades, sem adjetivar, sem conceituar.
Não precisamos alimentar a mente com coisa nenhuma... Ela não precisa ser nutrida.
As impressões que nos chegam pelos sentidos já são suficientes.

Aguardem a parte 10.