Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O budismo e as artes marciais

Segunda parte.


Mas como teria se dado essa ligação?

Com o desmembramento do Japão em feudos e pequenos reinados, muitas guerras internas surgiram e a classe dos samurais se viu diante de uma situação inusitada: Ter que lidar com o fato da morte iminente, tanto sua como de seus adversários, e a própria impermanência de todas as coisas, que se lhes apresentava através das conseqüências das guerras e dos combates. É nesse contexto que surge o Budismo como uma altenativa para se poder trilhar um caminho de despertar para a realidade dos fatos da vida e de conforto espiritual.

Para o Shintoísmo, a morte é um fato impuro. Ao matar alguém, seja numa guerra ou em combate pessoal, o samurai tinha que se submeter a complicados ritos de purificação, dentro desse sistema. Já o Budismo, apesar de ter como uma de suas bandeiras a não-violência, não faz discriminação entre vida e morte, sendo esses, apenas dois aspectos da própria existência. São considerados como inseparáveis, assim como as duas faces de uma mesma moeda ou de uma folha de papel.

Àqueles que buscavam o Budismo para receber orientação sobre a vida-e-morte, os monges transmitiam os ensinamentos de Buda e os métodos de meditação, principalmente o Zazen.

É interessante notar que o Zazen passou a ser a técnica por excelência dos praticantes de artes marciais, pois além de levar a pessoa a despertar sua visão interior para contemplar a Verdade, ou seja, a vida-e-morte assim como ela é, proporcionava uma tranqüilidade mental e espiritual que se refletia na própria técnica do guerreiro.

O espírito do Zen passou a permear as artes marciais na prática. Um praticante de Karate-Do, por exemplo, passou a utilizar o esvaziamento de sua mente e de seu espírito, tornando-se uno com seu adversário e assim, uno com o próprio universo. Nesse momento, não há mais matar ou morrer, ou ainda, o próprio matar torna-se o morrer, e morrer apenas o outro lado da mesma vida.

Com a mente una e “vazia” como a própria imensidão do universo, os movimentos podem se desenvolver sem passar pelo critério da discriminação intelectual. O karateca e seus movimentos e seu adversário tornam-se um só. Não há mais separação entre sujeito e objeto e assim as técnicas se concretizam por si só.

Entretanto, o Budismo prega o respeito pela vida e tem como um de seus votos principais o “não matar e não causar mal a nenhum ser vivente”. Como lidar com esse fato se a razão da vida de um guerreiro é o matar?

Foi dessa maneira que muitos samurais se recolheram aos templos budistas para meditar e assim buscar um caminho de libertação desse mundo em que sofremos e produzimos sofrimentos aos outros seres.

Com o passar do tempo, as guerras tomaram outras proporções, armas de fogo muito mais sofisticadas começaram a ser utilizadas e a própria classe dos samurais foi extinta por édito imperial, mas o espírito dos antigos guerreiros continua vivo em muitos templos e “Dôjôs (local de prática do Caminho), através das artes marciais.

A palavra que encontramos nos nomes das artes marciais é um indício disso. Karate-Do, Judô, Aikidô, Kyudô etc. é a leitura japonesa do ideograma chinês Tao, que dentre tantos significados tem o sentido de “Caminho”. Um caminho de aperfeiçoamento espiritual, um caminho de desenvolvimento interior, um caminho de unificação com o Absoluto.

Assim sendo, o Caminho do Guerreiro (Bushidô), se transforma no próprio trilhar do Caminho para a Iluminação (Butsudô), que é o Caminho pregado pelo Buda.

Rev Shaku Haku-Shin

2 comentários:

  1. Muito legal esse texto!

    Meu sensei costuma dizer que o Aikido é o "Zen em movimento".

    Na sangha que frequento também boa parte dos praticantes fazem alguma arte marcial.

    Posso deixar uma sugestão?

    Que tal um artigo sobre o mestre rinzai Takuan Soho que ensinou as técnias da não-mente para o grande Myiamoto Musashi?

    Abraço!

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  2. a certeza da morte deveria levar-nos a interiorização, mas infelizmente a grande maioria dos viventes se julgam imortais...assim deixam de ver a beleza do presente e vivem presos em seus próprios conceitos, mundos criados por uma mente dispersa e egoísta, que evita ver o mundo real... vivem dentro desse caleidoscópio de ilusões e delusões... mas um dia...um dia...vamos apenas comer, comendo e dormir, dormindo, etc...pois todos, sem exceção temos a natureza Budha, mas até lá... só o Zazen salva... Gassho, Bu Gi

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