Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

AFINAL QUAL E A ESSÊNCIA DESSE TAL DE ZEN BUDISMO...Parte 2

Parte 2
Ficamos o tempo todo tentando manipular o mundo para que os cães não ladrem, os acidentes não aconteçam, que faça sol aos sábados, que a pessoas da qual gostamos não nos mande passear, que todos nos achem populares, etc.
Vamos combinar que mesmo superficialmente, a inutilidade desses esforços deveria ser óbvia.
A vida humana é caracterizada pela insatisfação – Essa é 1ª Nobre Verdade.
A prática Zen baseia-se na realidade, não existe em sua prática nenhuma intenção de encobrir, atenuar ou reinterpretar os fatos - Essa é a 2ª Nobre Verdade – Essa insatisfação nasce conosco.
A 3ª Nobre Verdade é que podemos compreender a origem da nossa insatisfação.
A 4ª Nobre Verdade nos oferece um meio de ter a experiência dessa compreensão.
Como dizem no Japão yoko deshimashita...
Em geral, sempre que pensamos numa jornada, pensamos em uma viagem com uma direção definida, partindo de algum lugar com o objetivo de chegar a outro.
No Zen, essa jornada não nos leva a lugar algum, seja esse lugar dentro ou fora.
A jornada do Zen é para o que está próximo, para o que é imediato, para o aqui-e-agora.
O Zen acredita que para podermos estar realmente vivos devemos estar presentes.
Estar presentes!!!!!
Pois é, mas a pergunta que não quer calar é como fazemos isso...
Para ter a resposta para esta pergunta é necessário compreender 3 coisas:
Primeiro você deve entender que já é completo e perfeito, que não tem nada faltando, nem sobrando.
Em segundo lugar que a vida é passageira, que tudo é efêmero, impermanente, com exceção do motorista e do trocador - brincadeira.
Em terceiro lugar, tem que saber que você é seu próprio refúgio, o seu próprio santuário, a sua própria salvação.
Vamos a um exemplo:
Pegue uma flor. Uma rosa, por exemplo. Viva, fresca. Seu cheiro é maravilhoso, sua coloração impressionante. Difícil observar uma rosa e não achá-la linda.
O problema é que a rosa morre. Suas pétalas caem, murcham, desbotam e voltam para a terra como adubo.
Há! Há! Mas tem uma solução para esse impasse. Podemos substituir à rosa real por uma rosa de plástico, que nunca vai morrer.
Mas...
Eu disse mas... Será que queremos colocar em nossa mesa da sala de jantar uma rosa de plástico...Claro que não. Queremos a rosa real, aquela que morre.
Nós a queremos justamente porque causa disso, porque ela morre e, se morre é porque viveu.
É exatamente essa qualidade que a deixa preciosa.
Nós somos como essa rosa.

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Pequena pausa de efeito... aprendi isso com os pastores evangélicos na tv... Hahahahahaha. Rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs.

Ok! Vamos examinar essa coisa da impermanência com mais atenção.
É fácil perceber que não temos o mesmo corpo, nem a mesma mente de quando éramos crianças. Se olharmos com acuidade, (Alfredo, gostou da acuidade...) perceberemos que nenhum de nós tem o mesmo corpo nem a mesma mente de quando se sentou em zazen, de quando eu comecei a cansar vossos valiosos ouvidos com minha enfadonha explicação.
Nesse tempo, muitas células morreram e muitas outras nasceram.
Mudanças químicas incontáveis ocorreram em órgãos diferentes.
Nossos pensamentos mudaram em relação às circunstâncias.
Sinapses cerebrais se desencadearam milhares e milhares de vezes...
Em cada segundo, em cada minuto passado, mudamos e continuamos mudando.
Como a rosa, nossa mente e nosso corpo são efêmeros.
Tudo na nossa experiência – corpo, mente, pensamentos, desejos, necessidades, relacionamentos – tudo é efêmero, mutável e sujeito a transformações.
Morremos e renascemos a cada momento.
O processo de nascimento, transformação e morte prossegue indefinidamente, segundo após segundo bem diante de nossos olhos.
Tudo para o que olhamos, incluindo nós mesmos e cada aspecto de nossa vida, é apenas mudança.
No entanto... Queremos impedir a mudança, queremos preservar as coisas, apegamo-nos a elas – queremos seguir viajem carregando o anacrônico bote (hoje eu estou demais).
Já estamos dentro da realidade, quer a vejamos ou não. ´
A realidade é o que está acontecendo aqui-e-agora.
Exatamente por estarmos dentro da realidade é que temos a possibilidade da iluminação.
Podemos despertar bem aqui, nesse momento, a iluminação nos pertence, já está conosco.
A maioria pensa justamente o contrário, acham que temos que imaginar alguma coisa.
Mas não.
Não precisamos imaginar a experiência, ela já está aqui, em primeira mão.
Já somos iluminados, tudo que precisamos fazer é encarar com seriedade o hábito de perceber o que está acontecendo agora.
Você é a autoridade, não o Budha, Cristo, Maomé, Sai Baba, Dalai Lama, etc. Nem o governo, nem nossos pais, nem nossa presidenta, filósofos, cientistas, padres, acadêmicos, políticos, nenhuma escola, legislatura, parlamento, corte ou democracia.
Ninguém é responsável por nossa vida, por nossas palavras ou ações.
A autoridade é apenas nossa.
Não podemos nos livrar nem escapar dessa autoridade.
Podemos desistir dessa autoridade, podemos ignorá-la ou tentar repassá-la a outra pessoa, a uma entidade qualquer, civil ou religiosa.
Mas na verdade, o que estamos fazendo é negar essa autoridade.
Tomamos a decisão de mentir para nós mesmos e fazer de conta de que não somos os senhores da situação.
Tudo bem! Como quiser...
O que não pode é ficar se lamentando, por ter deixado de lado uma capacidade maravilhosa, uma possibilidade de despertar que sempre esteve e estará em nossas mãos.
Tudo o que precisamos fazer é “ver” que de fato não existe nada “lá fora” - Essa “visão”, essa percepção é a 4ª Nobre Verdade.
Essa 4ª verdade possui 8 aspectos ou  meios pelos quais podemos ter a experiência da liberdade.
Mas, que 4º Caminho, que 4ª Nobre Verdade é essa...
O caminho é “ver”...
Quando se consegue “ver”, falamos, agimos e seguimos nossas vidas de modo consciente. A sensatez no falar, no agir e no modo de vida em geral se seguirá então, naturalmente.
O ensinamento ético do Dharma, muito bem descrito nos 8 caminhos de libertação, não é um código puritano babaca de comportamento em que afetamos a virtude, granjeamos simpatia ou prometemos ser bons para que possamos reivindicar uma recompensa em alguma data posterior.
O ensinamento se baseia na realidade, nossa recompensa está no aqui-e-agora, não numa Terra-Do-Nunca, não somos nenhum Peter Pan.
O Zen não nos convida a chapinhar em idéias abstratas.
Em vez disso, a tarefa que nos oferece é atentar para o que é verdadeiro, para o que está acontecendo nesse exato momento.
Não temos que olhar para uma direção específica, repetir alguma fórmula especial, adquirir alguma coisa, muito menos sair em peregrinação a algum lugar sagrado.
Você desperta bem aqui, se ilumina bem aqui.
A 1ª das Quatro Verdades dita pelo Budha, foi chamada por ele de Dukka.
Dukka se traduz frequentemente como sofrimento, mas é muito mais que isso – deriva de uma palavra em sânscrito que se refere a uma carroça com as rodas desalinhadas. Vocês imaginam como deve ser desconfortável para os cavalos, para o condutor e para a carroça, andar em estradas esburacadas com as rodas desalinhadas – é muito sofrimento.
Essa 1ª Nobre Verdade compara a vida humana a essa carroça em péssimas condições. A cada giro da roda, a cada buraco do caminho, se experimenta sofrimento, desconforto e infelicidade.
É claro que existem momentos de prazer, mas independente do quanto tentemos manter o bom humor, esse prazer sempre passa e o tormento volta.
Como resolver o problema...
Fácil!
Começamos a investigar de forma lógica e clara, qual é a dificuldade que nos impede de seguir o caminho com tranqüilidade e satisfação.
Todos conhecem a expressão: “ver para crer”. Mas crer não é, na verdade ver.
A crença é uma conjectura refinada, é uma informação sobre a realidade.
Ver é a experiência direta, não adulterada, é a percepção imediata da própria realidade.
Ex: Suponha que eu aparecesse e lhe estendesse a mão fechada e dissesse: Estou segurando um diamante. Eu só poderia estar fazendo duas coisas - mentindo ou dizendo a verdade.
Você não tem muito em que se basear. Enquanto minha mão estiver fechada você não tem como saber se eu estou ou não com um diamante dentro dela.
O máximo que você pode fazer é, considerando a situação, acreditar ou não.
Só quando abro a mão é que você pode saber se tem um diamante ou não.
Essa percepção – saber através da visão – não necessita de crença, a crença não é necessária, afinal você pode ver por si mesmo se há ou não uma jóia na minha mão e, pode basear suas ações posteriores no que vê em vez do que pensa ou no que crê.
O mesmo se dá com qualquer problema, questão ou dilema.
A crença pode ser um tapa-buraco na impossibilidade da experiência em si, mas, quando você “vê” a realidade, a crença se torna desnecessária.
A realidade ou verdade como quiser chamar, estão aqui para que todos vejam. Quinquilharias, bugingangas, chapéus engraçados, apertos de mão diferentes – nada disso – só a própria verdade, a própria experiência. Não como você pensa, imagina, espera ou deseja que ela seja, mas como ela realmente é.
Porém, enquanto continuarmos no nosso estado mental habitual, nossa mente será caracterizada pela frustração, pela insatisfação e pelo sofrimento, ou seja, pelo Dukka.
Existem 3 tipos de Dukka:
O primeiro é o sofrimento constante, físico e mental.
Quer gostemos ou não o sofrimento é parte integrante de nossas vidas. Sempre podemos diminuí-lo, evitá-lo ou anestesiá-lo e, às vezes somos bem sucedidos nisso. Mas nunca podemos fugir totalmente dele, mas dia, menos dia ele aparece de novo.
Mesmo que estejamos com saúde perfeita, quem nos garante a impossibilidade de uma dengue hemorrágica, uma bala perdida, um acidente de carro, alguns de nós tem filhos em escola ... Nossa! Que horrível.
Em muitos casos a tentativa de evitar o sofrimento só faz aumentá-lo, um exemplo é uma dor de dente, ou um defeito no carro.
A dor física sempre aparece quando alguma coisa não está funcionando corretamente no corpo.
O sofrimento mental surge sempre que percebemos que algo está errado em nossa vida, na dos outros e no mundo em geral.
Nunca poderemos ter tudo o que desejamos, estar com todas as pessoas que amamos, trabalhar apenas no que gostamos, não sermos obrigados a estar perto de quem não queremos e de não nos separarmos das coisas que temos apreço.
Para onde quer que olhemos a dor e o sofrimento estão lá...
A segunda forma de Dukka é a mudança. Como já disse antes, todos os aspectos da nossa experiência, físicos e mentais, estão em constante fluxo.
Tudo aquilo que pensamos, apontamos, olhamos, falamos (esqueci de algum...) está em fluxo constante.
Se estamos no estado mental não desperto, esse fluxo ininterrupto é sempre motivo de sofrimento, insatisfação ou melhor dizendo – Dukka.
Aumentamos os problemas tentando deter a mudança, tentando fixar as coisas em lugares e, o pior é que fazemos isso através da força, do controle e da manipulação.
Também tentamos arranjar tudo a nossa volta para que as coisas tenham sentido.
Mesmo que consigamos tornar a situação cômoda por um tempo, todas as circunstâncias que envolvem a situação inevitavelmente se modificarão e quando se alterarem nosso momentâneo prazer passará, só para revelar o Dukka novamente.
A saída não é por meio do controle nem da manipulação, mas por meio da visão.
Além do Dukka do sofrimento, do Dukka da mudança, ainda tem uma terceira forma de Dukka, mas difícil de perceber que as outras duas.
É o Dukka da separação – isto é, enquanto você se ver como um ente distinto, separado, também se verá como estando sujeito a morte.
Vasto é o mundo, existe algum objetivo para tudo o que existe nele, eventualmente nos perguntamos?
Perceba como cada um de nós é insignificante se comparado a essa imensidão, isso sem falar na grande pergunta: O que vai acontecer depois que eu morrer?
Dispomos de todo tipo de informes sobre o céu, o inferno, o purgatório, o limbo, o mundo paralelo, o esquecimento, o retorno dos justos e outros que não lembro agora.
A doutrina dos despertos não é sobre contar histórias à noite ao redor da fogueira, para assuntar crianças. É sobre investigar a experiência real.
A 2ª Nobre Verdade é o surgimento do Dukka.
Budha usou a palavra Trisha.
Ele surge da sede, do desejo, da vontade, da tentativa de ter o objeto cobiçado nas mãos. Esse anseio aparece de 3 formas:
Primeiro há o desejo sensual físico e mental. Queremos sensações de bem estar, estimulantes físicos e mentais, uma boa conversa, um bom filme, não os que o Dalton escolhe. Uma vida emocional equilibrada, arte e entretenimentos agradáveis, assim por diante.
Em segundo lugar temos a sede pela própria existência. Não queremos morrer. De alguma forma queremos continuar vivendo para sempre.
A terceira forma é a sede pela não existência. Queremos nos libertar de uma vez para sempre desse mundo de dor e sofrimento.
Dukka aparece em nossa mente como uma dessas 3 formas de desejo.
Todas as aflições da humanidade derivam dessas 3 formas.
Para encerrar vou contar uma historinha:
“Um praticante foi ver o mestre e disse: Não agüento mais, quero ir embora.
Esta certo, pode ir.
Enquanto o sujeito se dirigia para a porta, o mestre disse: Essa não é a porta de saída.
Oh! Me desculpe, o homem olhou ao redor e percebeu uma segunda porta, assim que começou a se dirigir para a porta, o mestre disse: Esta também não é a porta de saída.
Começando a se irritar o sujeito percebeu uma portinha pequena atrás do assento do mestre, ia se dirigindo para lá quando o mestre calma e pausadamente disse: Essa também não é a porta de saída...
O cara, agora visivelmente irritado, perguntou:
O que quer dizer?
Como vou sair se todas as portas não levam a saída?
O senhor disse que eu poderia ir embora, mas por que porta eu saio?
O mestre respondeu baixinho: Não existe nenhuma porta por onde você ou qualquer outra pessoa possa sair.
Só podemos estar aqui, nesse momento.
Essa é realidade.
Então sente-se e “veja” a realidade da vida com seus próprios olhos...
Isso é o que devemos fazer.

Gassho!

Que todos os méritos de nossa prática pura sejam transferidos a todos aqueles que sofrem. Que possamos verdadeiramente clarificar a verdade.

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