Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sutra do Coração - parte 6

Sutra do Coração
Parte 6


Obviamente se nada fica velho, e sim, se altera, como pode morrer? Sem fim a velhice e morte, através do conhecimento e da sabedoria (prajna), quando afinal conseguimos compreender que todas as coisas visíveis e invisíveis, todas as coisas criadas e por criar carecem de uma substancia inerente, damos fim ao ilusório pensamento de início e de fim.


Quando por fim, paramos de conceituar, de pré-conceituar, de vivermos em função de nossos desejos condicionados, de nossas vontades arraigadas.


Quando compreendermos que não existem leis escritas nem doutrinas acerca do certo e do errado, pois as únicas leis são as que governam os fenômenos impermanentes da vida.


Quando entendermos que o discernimento racional vê os extremos como separados, uma verdadeira dicotomia na qual os opostos estão em conflito.


Quando na verdade nada está separado nem em conflito.


As ilusões dessa inverdade precisam ser desmascaradas para que a espontaneidade da verdade possa se manifestar.


Os extremos de felicidade e desventura, amor e ódio, moralidade e imoralidade, ignorância e fim da ignorância, velhice e morte e fim da velhice e morte só tem significado em relação uns com os outros, e suas determinações só são válidas com respeito ao observador.


Não se conhece uma coisa independentemente da outra, separada do seu oposto. Ver o “um” em “tudo” implica a constatação dos opostos, mas exclui o julgamento, e os opostos surgem unicamente como a unidade dinâmica da mudança.


Tudo é “processo”, um ciclo de vir–a-ser, um movimento dinâmico entre os extremos opostos da lei universal. A única constante no universo é o fato dela (a constante) não ser constante.


Nada permanece o mesmo por um único dia, uma hora ou mesmo um segundo. O mesmo homem não pode entrar no mesmo rio duas vezes. A água que o banhou não é mais a mesma e o homem que foi lavado pela água também não é mais o mesmo. A noite se transforma em dia, as neves do inverno trazem as flores da primavera. A mudança é vida. Compreender esse sutra significa chegar ao Satori, significa transpor o abismo, derrubar a muralha da dualidade que existe entre nós e o mundo conceitual, porém é necessário lembrar que o verdadeiro Satori consiste em esquecer o Satori, esquecer o ontem, esquecer o amanhã. Se estiver com sede, beba água, se estiver com fome coma, é simples, apenas faça o que deve ser feito, sem considerar, sem esperar nada.  O vazio é forma a forma é vazio.



“Bodisatva devido à sabedoria completa. Coração-mente sem obstáculos. Sem obstáculos, logo, sem medo. Distante de todas delusões, isto é Nirvana”.


Segundo a doutrina budista, o universo não nasceu através de um movimento físico, ou da vontade de algum ser sobrenatural. No tempo sem início, não havia forma, mas apenas o vazio, e dentro desse vazio, uma imensa nuvem de gás e poeira em suspensão.


Ás vezes uma troca aleatória ocorria entre os átomos. A força que obrigou próton a colidir com próton, num choque suficientemente violento (big-bang) para fundi-los em átomos de elementos novos, começou com uma vibração.


Uma onda de energia criativa, na forma de luz, riscou as trevas dando início a um processo initerrupto e infinito de mudanças. Bastou certas condições estarem organizadas de uma certa maneira, que o estopim se acendeu.


No começo era somente a sutileza, depois lançou-se no caos o movimento sem objetivo das partículas subatômicas e da matéria.


Numa febre de reações atômicas, uma onda inestancável de poder gerou enorme calor, e esse calor, essa energia, essa ação dinâmica universal deu nascimento às estrelas e galáxias. No começo ou ainda antes do começo, toda matéria, toda radiação, todo o espaço concentrava-se num vazio celestial no qual a radiação e a matéria podiam coexistir.


A temperatura do universo era tão elevada que as forças nucleares e eletromagnéticas revelavam-se incapazes de soldar as partículas básicas numa estrutura nuclear e atômica. Era um pretenso e sutil estado de equilíbrio térmico onde a força dominante que mantinha unida a matéria era a gravidade.


Então a bola primordial de fogo, condensada, explodiu, carregando os abismos de energia e radiação. À medida que a bola de luz começava a expandir-se, a matéria ia se dissolvendo como sal na chuva.


Partículas elementares eram constantemente criadas e destruídas, criando e aniquilando nêutrons, prótons e elétrons na proporção da expansão do universo. Com a energia do calor intenso promovendo a expansão, a temperatura do universo caiu e a velocidade do processo criativo começou a decrescer pouco a pouco.


A quantidade de energia, com relação a quantidade de matéria também decresceu, e os nêutrons começaram a fundir-se com os prótons numa verdadeira pantomima de reações nucleares.


A radiação estava uniformemente dispersa no espaço, mas, à medida que uma quantidade maior de energia passava a ser contida na matéria, esta iniciava  passava a exercer poder de atração que faz com que a matéria se agregue.


Centenas de milhões de anos depois da explosão, o universo se tornara bem mais brilhante, iluminado por incontáveis estrelas e nebulosas. Embora se alterando sempre em forma e função, parece que o universo é o mesmo de sempre.


Entretanto, uma estrela nunca permanece a mesma, ela evolui constantemente ao longo dos ciclos mutáveis de desenvolvimento, enquanto vai processando a matéria prima da construção universal.


Todas as miríades de coisas existentes no cosmos foram adaptações, transformações, verdadeiras mutações de outras coisas. Todas as coisas começaram como tudo começa, da pureza física da “não-forma” do “não tempo”, do “não espaço”, do vazio, originando-se da percepção da vibração ou como preferem os budistas do “vir-a-ser”. Não há tempo nem espaço, somente o universo tal como é.


Nós vivemos neste universo, somos construídos com a mesma matéria prima do universo, entretanto cegos pela ilusão e ignorância, enxergamos uma vasta expansão exânime na qual a esfera dos organismos vivos mantém uma existência separada.


Desgraçadamente, o coração e a mente não se encontram sem obstáculos, por isso damos como verdadeiros os relatos que constituíam exercícios elementares de intelecto e criatividade.


Um homem sobe a encosta íngreme de uma montanha, uma pedra se desprende, o pé falseia, acontece o desequilíbrio, ele rola ribanceira abaixo. Os segundos finais de sua vida são gastos em rezar desesperadamente para que a mão divina se estenda e o salve da morte certa que o aguarda lá embaixo.


Para longe a lei da gravidade, o indivíduo quer um milagre pessoal. Apega-se insensatamente ao conceito de que é “direito” dos deuses governarem o universo pelo milagre, pela sua onipotente vontade e não pelas leis naturais.


Subconscientemente quer crer que acreditando no divino, imediatamente passa a ser diferente dos outros pobres mortais, afinal, sé é íntimo dos poderosos deuses, se encontra à margem das leis que governam a natureza.


Acredito que todos queiram ser felizes, mas ninguém está disposto a fazer qualquer espécie de sacrifício, ou perder seja lá o que for pela felicidade. Para tal necessário possuir o silêncio interior. Esse silêncio é o fundamento para a experiência religiosa mística, é treinamento para o despertar, para o Satori.


Não deixem de ler a parte 7.

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