Resposta:
MIZU NO KOKORO.
No Oriente e no
Japão, em particular, talvez porque seja uma ilha, a água tem sido usada
simbolicamente por séculos. Possuir um pequeno lago é uma característica importante
das casas, restaurantes, templos e demais localidades no Japão. A areia cuidadosamente distribuída nos
jardins simboliza o vasto oceano. Referências à água de uma forma ou outra podem
ser encontradas em toda a literatura e filosofia japonesa, mas um dito em
particular que se destaca é Mizu no Kokoro - Uma mente como a água.
A frase Mizu no Kokoro é, por vezes traduzida como
"um mente como a água parada", mas eu acho essa tradução imprecisa e incapaz
de transmitir seu significado mais amplo. Mizu, significa água e a palavra kokoro em japonês significa coração/mente com a
implicação de que a nossa vida emocional (do coração) e nossa vida racional (da
mente) estão interligadas e não separadas como tendemos a distingui-las no
Ocidente.
Com esse pano de
fundo preenchido, vamos dar uma olhada no que Mizu no Kokoro significa.
A primeira coisa que
Mizu no Kokoro ensina é que quando a água é calma não há ondulações, n ão há perturbação.
A superfície de um lago quando não há vento é perfeitamente
imóvel. Trazendo esse conceito para nossa vida, é assim que devemos
manter nossa mente - perfeitamente imóvel, calma, e relaxada.
Mente calma quer
dizer, mente sem os intermináveis diálogos internos, que não se perde nas lembranças
boas ou más do passado, mente que não foge para as previsões do futuro, mente
que não tenta reter nada que seja bom, nem tenta expulsar aquilo que seja ruim,
mente que atua como observadora atenta de tudo que acontece ao seu redor. Uma mente completamente
neutra e sem sensações do tipo “eu gosto” ou “eu não gosto”. Uma mente que não
distingue entre 'sim' e 'não', entre 'bom' ou 'mal'. Uma mente que passeia pelo
mundo sem distinções e intranquilidades.
Poético demais...Vou
tentar falar mais claro.
Em termos práticos,
esse estado mental de Mizu no Kokoro é capacidade da mente manter a mais absoluta tranqüilidade
diante da adversidade, sem ser perturbada pelas
nuances e tensões da vida.
Vamos nos permitir viajar
na maionese...
Imagine sua mente
como um lago sereno, sem nenhum vento, com suas águas límpidas e sem a menor
ondulação. De repente a superfície
desse lago é perturbada, imediatamente ondulações são criadas. Anéis concêntricos espalham-se a partir da fonte do
distúrbio, anéis esses que formam ondas que mais dia menos dia retornarão ao
ponto onde houve a perturbação (Karma). A água não é mais
calma e tranquila.
Imagine novamente
sua mente como esse lago... Perceba que a água á partir do momento que foi
perturbada, não reage de qualquer forma, ela reage em função da agressão
recebida que é proporcional à força do agente causador, lembra-se da Terceira
lei de Newton – “Toda ação corresponde a uma reação que lhe igual e contrária”. Pois é, a água e a mente
são iguais, sempre que elas reagem o fazem na medida de sua injúria, o objetivo
é sempre retornar a calma, para tal, a água revida na justa medida, mas o faz, sem
sentimentos de raiva, ironia, sarcasmo, vingança etc. Sua reação
sempre se encontra em perfeita harmonia com a ação inicial perturbadora, nunca
mais ou menos, sempre equilibrada.
Nossas reações devem ser da mesma maneira, totalmente equânimes
com a agressão, nem mais nem menos. Normalmente
nos defendemos dizendo que tivemos um dia
ruim, que dormimos mal, muitas contas para pagar (eu que o diga...) etc, isso é
apenas uma desculpa para uma reação exagerada, motivada única e exclusivamente
pelo ego exacerbado. O dano causado em tais momentos pode influenciar
sua vida para sempre.
Vamos entender a diferença
na concepção ocidental e japonesa das funções do coração e
da mente. No Ocidente somos condicionados a manter nossas emoções
sob controle.
Regras de racionalidade, fingimento social, educação social. Mizu no Kokoro
deixa claro que as reações devem ser
apropriadas, a resposta deve ser natural, uma ação com o objetivo de
restabelecer o equilíbrio perdido. A maneira pela qual uma pessoa reage a um
café derramado na camisa é totalmente diferente da outra. Como será
que um lago reage qd alguém joga alguma coisa dentro dele...
Mizu no Kokoro faz com
que assim que tenha se esgotado a reação e retornado ao estado de equilíbrio, a
superfície do lago ou mente torna-se tranqüila outra vez .
Faça o seguinte
exercício: Sente-se calmamente, feche os olhos. Imagine
que você está sentado na frente de um grande e plácido lago. Seus pés estão
descansando dentro da água, você pode sentir uma leve brisa em sua pele. De
repente o tempo muda, uma forte rajada de vento altera esse equilíbrio.
Pequenas ondas são criadas, ondas maiores aparecem na medida da
continuidade do vento. Assim que o vento desaparece as ondas perdem sua força e diminuem.
Assim é a mente Mizu no kokoro.
Sou conhecido por ser o famoso explicadinho, então, continuo...
O entendimento desse
conceito é a de procura da homeostase, do equilíbrio, a mente nesse conceito é
reativa e não passiva. O karateca reage a
uma agressão apenas para buscar o equilíbrio perdido, o que o move não é a
raiva, o ego atingido (que ego...), sua auto-imagem etc., assim, uma vez
passado o perigo ele para, não há mais necessidade da continuidade, o perigo já
passou, qualquer coisa além disso é desnecessária.
Bem sei que m anter
a tranquilidade, enquanto a vida cuidadosamente construída desmorona ao seu
redor não é tão fácil como parece, pelo contrário é como construir uma
casa em cima da outra “é difícil” (edifício). Neste mister, a meditação é o
remédio que nos capacita a assim pensar e agir.
Mizu no Kokoro não é
uma mente estagnada, travada, sem vida ou viço, os kanjis muitas vezes sugerem
uma coisa mas querem dizer outra, não se trata
absolutamente de aceitar passivamente o que o destino joga em você (aliás
destino não existe, mas isso é conversa para outro dia), mas sim de procurar o
equilíbrio todas as vezes que esse status quo for quebrado. Até aí tudo bem,
mas a dificuldade aparece, quando dizemos que essa procura pelo equilíbrio deve
ser efetuada sem envolvimento emocional, sem sentimento envolvido, apenas o
retornar do pêndulo assim que gasta e passada a energia que o fez balançar.
Um verdadeiro mestre
numa arte marcial utiliza movimentos quase infantis, sempre s imples e diretos, apenas o suficiente
para retornar o equilíbrio sem desperdício de energia física ou mental, sua
mente não é perturbada pelo ataque, ele apenas procura harmonizar-se com a
situação de modo a poder retornar a calma.
Quando perturbada, a água reage... nunca mais que o suficiente. Logo depois retorna à sua condição original de
calma. Esta é a lição a aprender e aplicar em sua vida. Uma
das características que a água, como qualquer líquido, tem é a de se adaptar a qualquer
novo ambiente. Uma medida de água colocada em recipientes diferentes
imediatamente altera a sua forma para caber no seu novo ambiente, não fica
infeliz, nem feliz, apenas se adapta e segue sendo água.
A lição aqui é óbvia: Se adaptar às circunstâncias.
Não fique preso as velhas e ultrapassadas maneiras de pensar e agir, fazer a
mesma coisa nem sempre produz os mesmo resultados, pois as agressões e
solicitações nunca são iguais. A incapacidade de se adaptar as mudanças,
aprender e aplicar novas habilidades, é um fator limitante e um passaporte para
o sofrimento. A recusa de enfrentar os fatos e reconhecer que tudo muda o
tempo todo sem cessar pode significar um desastre para você.
Não temos que lutar com a vida, mas sim, adaptar-se
a ela, h armonizar-se com ela. Avaliar de forma
realista o que está acontecendo e fazer as mudanças necessárias para permitir
continuar vivendo de forma equilibrada.
Resumindo:
Mizu Kokoro - “Uma mente como a água” ou "Um estado de espírito
semelhante à água”. Quando a mente é como a água, você está "aqui e
agora". Está calmo e em paz consigo mesmo, está completamente absorto no que esta fazendo, sem pensar no
passado ou futuro, apenas sintonizado com o que está acontecendo nesse exato
momento. Quando surge uma perturbação, a reação é a mais apropriada. N em
de mais, nem de menos, apenas o necessário para o retorno a calma e a
tranqüilidade.
Simples assim!!!!
Como sempre, perfeito Sensei.
ResponderExcluirOss!
Aguarde a complementação - Tsuri no Kokoro (uma mente como a lua)
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