“...Se surgir o menor pensamento dualista, você perderá sua mente‐Buda. Por exemplo, algumas pessoas se orgulham de sua compreensão e acreditam que estão ricamente dotadas com a sabedoria de Buda. Crêem que já alcançaram o Caminho, iluminaram sua mente e conquistaram o poder de tocar os céus. Imaginam que estão andando no reino da iluminação. Mas o fato é que quase perderam o Caminho absoluto, que está além da própria iluminação...”
Dogen está querendo dizer que mesmo que você tinha um insight de sua verdadeira natureza, isso é apenas o começo.
Realização é apenas o primeiro passo, ficar preso na experiência é o mesmo que ser aprisionado em sua própria armadilha.
Apegar-se a qualquer tipo de experiência de realização é como ficar tentando saborear o sorvete de ontem.
É andar agarrado ao seu troféu de futebol da escola dos tempos da adolescência.
Isso sem entrarmos no mérito da possibilidade da presunção e arrogância derivada da realização.
Apenas praticando diariamente podemos nos tornar ‘um’ com o Caminho de Buda e finalmente sermos o próprio Caminho.
Praticar diariamente é saber que cada passo dado nos oferece uma gama de possibilidades sensacionais.
“...Se surgir o menor pensamento dualista, você perderá sua mente‐Buda...”
Disse Koun Ejo Zenji:
"Tenho um conselho aos que sinceramente aspiram praticar. Não se deixem levar por um particular estado mental ou por um objeto. Não repousem no intelecto ou na sabedoria. Não busquem a iluminação nem afastem a ilusão. Não rejeitem o fluxo mental nem se apeguem a pensamentos identificando-se com eles. Apenas sentem de forma calma e estável. Mesmo que oitenta e quatro mil pensamentos equivocados surjam, todos e cada um podem se tornar Prajna’
“...Por exemplo, algumas pessoas se orgulham de sua compreensão e acreditam que estão ricamente dotadas com a sabedoria de Buda...”
A Realidade é a Unidade Absoluta.
Se você divide a Realidade em duas, tais como ilusão e iluminação, e pratica para escapar da ilusão e procurar a iluminação, sua prática está errada, pois se encontra baseada na ilusão.
Não importa o quanto você reze, leia livros de auto ajuda ou assista palestras de religiosos, se existir o pensamento dualista não chegará a lugar nenhum.
Somente através da prática a iluminação realiza a si mesmo.
Estados mentais, objetos, são preferências, gostos pessoais, são o ‘tomar partido’, são o sim e o não.
Não repousem no intelecto ou na sabedoria.
Todos os ancestrais já deixaram bem claro e Hui Neng (inicialmente um simples carvoeiro) mais ainda.
Não é a intelectualidade, não é o ‘saber’ acadêmico que produz a unidade e a libertação.
Na verdade, eles podem ser verdadeiros entraves do caminho iluminado.
Não rejeitem o fluxo mental nem se apeguem a pensamentos identificando-se com eles.
Se manifestarmos a menor preferência ou a menor antipatia, o espírito se perde na confusão.
Não busquem a iluminação
nem afastem a ilusão.
Quando existe uma preferência,
seja ela de amor, antipatia, raiva, desprezo, ou qualquer outra coisa, a
verdade vai embora. Tem uma frase que diz:
“Um só instante e o mente se perde na confusão".
O kanji para esta frase é lido como shin shu.
Shin, quer dizer “mente“ e Shu "perdido".
Não é a verdade que é perdida, mas a mente.
Apenas o que é, sem dualidades, sem divisões.
Ou segundo Hui Neng: ’sem espelho para limpar a poeira’.
Ou como diz o menino em Matriz: Não existe colher.
A partir do momento em que ele afirmava que não havia nenhum espelho e, portanto, nada a limpar.
Nenhuma colher, portanto nenhum empecilho.Com a mente perfeitamente unificados podemos perceber que nada há a ser limpo, pois nada foi sujo e a colher é apenas um conjunto de agregados.
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