Parte 18.
“Em disputas frente a um magistrado, ou com medo no campo de batalha. Se pensar no poder de Kannon, todos os seus inimigos se renderão!”
A mente é a raiz da qual todas as coisas aparecem, os
frutos, os galhos, as folhas de uma árvore, dependem desta raiz. Se você
alimenta a raiz da árvore, a árvore cresce e se multiplica. Se você corta sua
raiz, ela morre. Aqueles que não entendem que é a mente que produz o mundo,
vivem em vão. Todas
as coisas boas e más vêem de sua própria mente. Nada existe fora da mente. Se
sua mente for pura, não tem o que temer, mesmo estando em frente a um juiz, um
delegado ou num campo de batalha, seja ele no real sentido da frase ou em um
sentido hipotético.
Esse sutra contêm inumeráveis metáforas muito interessantes
que devem ser estudadas e compreendidas corretamente. Devido ao fato das
pessoas terem mentes superficiais, Budha usou o tangível para representar o
sublime.
Aqueles que buscam a iluminação consideram seus corpos como
fornalhas, o Dharma como o fogo, a sabedoria como a metalurgia, os preceitos e
as paramitas como o molde. Eles fundem e refinam a verdadeira natureza búdica
dentro de si e derramam-na no molde formado pelas regras da disciplina. Atuando
perfeitamente de acordo com o ensinamento de Budha eles naturalmente criam uma
semelhança perfeita. O corpo sublime e eterno não está sujeito às condições ou
decadência. Se você procura a Verdade mas não aprende a fazer uma semelhança
verdadeira, o que você usará no lugar?
Comparando a iluminação da consciência com a luz de uma
lâmpada, aqueles que buscam a liberação vêm seus corpos como uma lâmpada, suas
mentes como seu pavio, a disciplina como o óleo, e o poder da sabedoria como a
chama. Acendendo a lâmpada da perfeita consciência elas dissipam toda escuridão
e ilusão. E transmitindo esse Dharma para outros usam a lâmpada para acender
milhares de outras lâmpadas.
E como essas lâmpadas acendidas da mesma maneira acendem
milhares de outras lâmpadas, sua luz dura para sempre.
“Sua é a voz maravilhosa, voz de observador dos sons do mundo, voz de Brahman, voz de maré crescente, voz de todo o mundo!”
O som da vibração primeva do mundo é ON.
Maravilhoso é o som do vale sendo varrido pelos ventos. O som das águas recita repetidamente, como uma interminável ladainha o nome de Kannon. Se puder se sentar calmamente perto de um rio perceberá que o som produzido pelo barulho das águas é a voz de Kannon.
Kannon escuta todos os sons, seja do clamor dos seres
sensíveis, seja do mugido da vaca que tranquilamente rumina a grama. Se nos
concentramos nos sons de cada momento, se percebemos compassivamente os vários
sons do mundo, nos transformamos em kannon.
Costumamos achar as desculpas mais esdrúxulas para não
escutarmos sua voz. Alguns dizem que não acreditam nos ensinamentos; outros
acham que não estão sintonizados ou que não possuem a capacidade necessária.
Quer acreditemos ou não no samsara, é aqui que estamos. Quer
acreditemos ou não no Karma, nós o estamos criando a cada ação efetuada, a cada
palavra proferida, a cada pensamento.
Quer acreditemos ou não em Kannon ela está sempre pronta a
nos ajudar. Estejamos prontos ou não, a morte e as doenças vão nos atingir. Por
que estamos sempre prontos para beber veneno, mas não para tomar remédio.
Não praticar depois de estabelecer contato com a doutrina é
como comprar todos os ingredientes necessários para cozinhar sua comida
preferida, ter um trabalho danado para deixá-la pronta, arrumá-las na mesa, e
não comer.
Precisamos sentir a necessidade imediata de praticar agora
mesmo, não apenas hoje, não apenas nesta hora, mas neste exato momento. Não
espere o sofrimento chegar para começar a praticar.
Tudo o que acontece em nossa vida é parte do caminho.
Provações se transformam em oportunidade para a prática. Aprendemos a aceitar
as adversidades porque compreendemos que quando passamos por dificuldades, na
verdade estamos depurando o Karma que produzimos. Uma única dor de cabeça pode
purificar o que seriam centenas de anos de sofrimento em um dos reinos do
inferno. Isso não quer dizer que devemos rejeitar a felicidade, devemos
aproveitá-la e dedicar esse mérito aos outros seres, rezando para que a
felicidade deles seja duradoura.
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