Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

sábado, 31 de dezembro de 2011


Parte 17.

Neste momento o Bodisatva da Intenção Inesgotável (Akshayamati), com o coração repleto de alegria, entoa estes versos louvando o Bodisatva kanzeon:

“Verdadeiro observar, observar sereno, observar de sabedoria de longo alcance, observar de misericórdia, observar de compaixão. Tanto esperado, tanto esperado!

Pura e serena em radiância. A sabedoria do sol destruindo as escuridões, controlador de tempestades e incêndios, que ilumina todo o mundo. Lei de piedade, tremor do trovão!”

A mente humana possui dois aspectos, o aspecto puro e o impuro. Kanzeon, com seu profundo olhar de misericórdia sabe que esses dois estados mentais estão sempre presentes, se alternando em razão de causas e efeitos dependendo das condições. A mente pura alegrando-se em bons atos, a mente impura manifestando o mal.

Aqueles que não se deixam afetar pela impureza são sábios, eles transcendem o sofrimento e experimentam a felicidade nesta vida. Os outros, enganados pela mente impura e enredados pelo seu próprio karma, sofrem imensamente. Deixam-se levar através dos três reinos inferiores da existência sofrendo incontáveis aflições, tudo porque suas mentes impuras obscurecem a Natureza Budha.
No Sutra da Dez Etapas está escrito:
"No corpo dos mortais reside a natureza Budha que é indestrutível. Como o Sol, sua luz preenche o espaço sem fim. Mas uma vez ocultado pelas nuvens escuras, é como a luz dentro de um jarro, escondido da vista”.

E no Sutra do Nirvana encontramos:
"Todos os mortais têm Natureza-Budha. Mas ela está encoberta pela escuridão. Nossa Natureza-Budha é estar consciente e fazer os outros conscientes. Perceber a consciência é liberação".

E desta raiz de consciência cresce a árvore de todas as virtudes e o fruto da iluminação.
A mente ignorante (que não sabe), com suas infinitas aflições, paixões e desejos, é presa pelos três venenos: ganância, raiva e ignorância. Esses três estados da mente venenosos por si mesmos incluem inúmeros outros sofrimentos, como árvores que têm um único tronco, mas inúmeros galhos e folhas. Cada veneno mental produz tantos outros sofrimentos que o exemplo da árvore nem é uma comparação apropriada.

Kannon com sua capacidade de tudo observar irradia sua benevolência a todos os seres.
Que possamos nos transformar em Kannon, é isso que é tanto esperado, tanto esperado...


“Compaixão maravilhosa, como uma grande nuvem, caindo simultaneamente chuva espiritual como néctar, apagando as chamas da tristeza!”
No Sutra de Lótus da lei Maravilhosa está escrito no capítulo três (metáforas e parábolas).
“Numa certa cidade havia um homem muito rico. Ele estava já entrado em anos e a sua riqueza não tinha medida. Ele possuía muitos terrenos, casas e servos. Sua casa era grande e complexa, mas tinha só uma porta. Muita gente morava na casa.
Subitamente, pegou fogo atingindo toda a casa. Os filhos desse homem rico brincavam no interior da casa. Quando o homem viu as enormes chamas saindo pelas janelas, ficou alarmado e pensou: Eu consigo escapar com segurança por entre a porta em chamas, mas e meus filhos que estão lá dentro brincando. Eles não tem têm noção do perigo e não pensam em tentar escapar!
Eu tenho força no meu corpo e membros, posso embrulhá-los num cobertor e trazê-los para fora. Mas, a casa tem apenas uma porta estreita e pequena.
Os meus filhos são muito novos e estão tão entretidos com suas brincadeiras que correm o risco de morrerem queimados. A casa já está em chamas e eu tenho que salvá-los do fogo!
Tendo pensado isto, começou a chamar pelos filhos: Venham cá para fora depressa!

Mas apesar dos chamamentos do pai, os filhos absorvidos nos seus jogos não lhe deram ouvidos, nem perceberam os riscos da situação.
Então, o homem pensou: A casa está em chamas, se os meus filhos não saírem de imediato, poderão morrer, devo inventar um meio hábil que torne possível às crianças escapar ilesas.
O pai conhecia os vários brinquedos e objetos curiosos de que eles gostavam. Então ele gritou: O tipo de brinquedos de que vocês gostam são raros e difíceis de encontrar. Se não vocês não vierem agora vão se arrepender. Tem carros, puxados por cabras, por veados e por búfalos. Eles estão aqui fora. Venham e podem brincar com eles.
Quando os filhos ouviram o pai falar-lhes desses raros brinquedos, porque essas eram justamente o que eles queriam, ficaram entusiasmados e empurrando-se uns aos outros, saíram precipitadamente da casa em chamas.
Então, o rico homem, vendo que os seus filhos tinham saído sãos e salvos e estavam todos sentados no exterior, livres de perigo, ficou aliviado. Nessa altura cada um dos filhos disse ao pai: Cadê os brinquedos que nos prometeste, os carros de cabras, veados e búfalos.
Então, o homem rico deu a cada um dos seus filhos uma grande carruagem de igual tamanho e qualidade. As carruagens eram altas e espaçosas, ricamente adornadas com sinos e campainhas, decoradas com preciosas jóias. Cordões de jóias e grinaldas de flores pendiam à volta e o interior era acolchoado e com almofadas púrpuras. Cada carruagem era puxada por um búfalo branco, de pele pura e limpa, formoso e forte, capaz de puxar a carruagem suave e firmemente, num andamento rápido como o vento, muitos cocheiros e criados se perfilavam para servir e para guardar a carruagem.

Qual a razão de tudo isto?
A fortuna desse homem rico era ilimitada, ele tinha imensos armazéns abarrotados de mercadorias. No momento do incêndio ele pensou: As minhas posses não têm fim, essas crianças são meus filhos e eu as amo sem nenhuma parcialidade. Tenho incontáveis carruagens adornadas com tesouros. Devo ser equânime e dar uma a cada um dos meus filhos, sem qualquer discriminação. Meus bens são tantos que mesmo que eu desse uma coisa para cada uma das pessoas do meu reino eu não esgotaria as minhas posses.
Nessa altura, cada um dos filhos subiu para a sua carruagem, ganhando o que nunca antes possuíram, algo que excedia quaisquer das suas expectativas.

O que podemos deduzir dessa parábola? Quando o homem rico deu com imparcialidade estas grandes carruagens aos seus filhos, adornadas com raras jóias, foi culpado de falsidade?
Perguntou o Budha.
E Shariputra disse, Não honrado Pelo Mundo. Esse homem rico apenas tornou possível aos seus filhos escapar do perigo do fogo e preservar as suas vidas. Ele não incorreu em falsidade, ao salvar suas vidas eles receberam os presentes. Através de meios hábeis, conseguiram escapar da casa em chamas!

Honrado Pelo Mundo, ainda que o homem rico não lhes tivesse dado qualquer carruagem, ele mesmo assim não seria culpado de falsidade, porque originalmente, sua intenção foi fazer com que seus filhos escapassem. Usar um artifício deste gênero não é falsidade. Ainda mais que ele sabia que sua fortuna era ilimitada e podia sem maiores despesas dar a cada de seus filhos uma grande carruagem.
O Buddha, então, fala para Shariputra:

Muito bem, muito bem. É tal como disseste. Assim é o Budha e seus Bodisatvas. Ele é um pai para o mundo."

Assim funcionam os Budhas e Bodisatvas, eles usam de meios hábeis para trazer o benefício do Dharma para todos, por isso no Sutra é dito que sua Compaixão é maravilhosa e cai sobre todos os seres como as chuvas de uma grande nuvem de néctar espiritual, apagando as chamas da tristeza.


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