“Se no grande oceano, entre perigos de peixes,
Dragões e demônios,
Pensar no poder de Kannon,
As ondas não o poderão submergir”.
Logo depois do fogo o sutra fala sobre os acidentes com a
água.
É como se estivéssemos do nascimento até a morte em um
grande oceano, totalmente perdidos e, rodeado de perigos e ameaças. Da mesma
maneira é nossa consciência, muitas são as altas ondas que podem nos fazer
submergir a qualquer momento.
O Ancestral do Karate Shotokan –Funakoshi Guichin, declara em seu Niju Kun – Os
vinte preceitos para o praticante:
“Ao sair de casa pela manhã, acautele-se e mantenha a
vigilância, mil perigos físicos e mentais o espreitam”.
Corremos o tempo todo atrás daquilo que gostamos e fugimos
“enlouquecidamente” daquilo que detestamos. Amamos, odiamos e, às vezes, os
dois ao mesmo tempo.
Somos como uma pequena embarcação totalmente á disposição
das ondas num imenso e bravio oceano. Na maior parte do tempo, não conseguimos
controlar o timão, ficando à mercê das altas ondas que nos jogam de um lado
para o outro.
Somos invejosos, infelizes, coléricos.
Ora! Quem é feliz, não tem inveja, não tem raiva, não deseja
o que não lhe pertence, não quer fazer mal a ninguém.
Se navegamos em calmas águas não precisamos nos preocupar.
Se nossa mente está pacificada nada nos atinge, nenhuma onda nos fará
submergir. Se andamos somente para o lado bom e correto da vida, o lado ruim a
cada dia fica mais longe.
Agora se a cada passo dado produzimos mal Karma, ele nos
seguirá como uma sombra, esperando apenas que reunidas as causas e condições ele
se manifeste nos levando para o fundo do oceano.
Então começamos a correr, como se pudéssemos nos afastar do
resultado de nossas ações. Ledo engano, quanto mais corremos mais chegamos
perto da tempestade que nos levará de roldão em suas ondas.
“Se do topo do Monte Sumeru,
Pessoas quiserem empurrá-lo, Pensar no poder de Kannon,
O fará pousar estaticamente, assim como o sol”.
O monte Sumeru, ou monte Sumi é uma montanha imaginária mais alta que o Himalaia, esse monte, essa montanha simboliza o ego. Estar no topo dessa montanha reflete o quanto estamos imbuídos de nós mesmos, o quanto é forte o sentido de “eu”.
Acreditamos que nossos pensamentos são os mais corretos,
nossas ações são as mais justas. Se dotados de grande conhecimento, de muita
intelectualidade, nosso orgulho é enorme, sempre achamos que temos razão,
afinal, nós sabemos e o outro não. Por outro lado, os estúpidos, também são
muito orgulhosos, acham que são discriminados e constantemente humilhados pelos
inteligentes, assim se fecham numa couraça de orgulho e raiva.
Naturalmente que certa dose de confiança em si mesmo, é
necessária, porém não suba no pedestal do ego, achando que possui a panacéia do
mundo.
Desça imediatamente dessa montanha. Saiba ser simples.
As coisas mais importantes da vida são simples. O sol
nascendo diariamente. A noite nos cobrindo com seu negro manto. Simples, porém
capazes de produzir vida.
A prática do zazen nos fornece as ferramentas para
percebermos onde estamos, se em cima da alta montanha do orgulho, da inveja, da
ganância ou embaixo onde a temperatura é amena e a alimentação farta.
Não percam a parte 11.
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