Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


Parte 9.

O budismo distingue três tipos principais de sofrimento:
1- O sofrimento causado pela vida. Sofremos ao nascer, ao crescer, ao ficarmos doentes, ao sermos privados de estar onde queremos e com quem desejamos, isso sem falar no sofrimento da idade avançada, principalmente no Brasil, onde a assistência médica deixa muito a desejar.
2- O sofrimento produzido pela mudança. Tudo se transforma, nada existe que seja estável, a única certeza que temos é que tudo é incerto. Quem não se lembra do refrão da música: Navegar é preciso, viver não é preciso – navegar é preciso por que se navega por precisos instrumentos e viver não é preciso, pois como tudo é instável, não existe precisão na vida e sim aleatoriedade.
3- O sofrimento produzido pelo infortúnio. Sofremos quando ficamos doentes, quando perdemos o emprego, quando morrem nossos pais e parentes, quando o casamento se acaba, quando nos assola uma manifestação da natureza e perdemos nossas posses etc.

Quando fazemos zazen regularmente, o apego ao ego vai diminuindo, arrefecendo. Deste modo o sofrimento e a ilusão vão se diluindo. A raiz do sofrimento existe dentro de nossa consciência. Sofre o rico com medo de perder o que tem e sofre o pobre porque pouco possui, esse fogo ao qual se refere o sutra não é físico e sim mental, derivado de nossos apegos ao mundo sensorial.

No Sutra Lankavatara está escrito:
“ ...Uma vez que o ignorante e o ingênuo não sabem que o mundo é algo visto unicamente pela própria mente, é que se apegam à multiplicidade dos objetos externos, que se apegam às noções de ser e não ser, unidade e diversidade, ambigüidade e não ambigüidade, existência e não existência, eternidade e não eternidade, e pensam que têm uma natureza do eu por si mesmos, e que tudo nasce das discriminações da mente, e que é perpetuada pela energia desse hábito, e do qual eles estão entregues a falsas imaginações”.

Segue o Sutra:

“Se alguma força do mal o jogar numa fogueira. Pensar no poder de kannon transforma a fogueira em água”.
Que força do mal seria essa.
O inferno não existe em outro mundo, em outra vida, mas sim, nesta vida, neste momento, em nossa própria consciência. O fogo da raiva, da paixão descontrolada, dos desejos de posse e da ganância são como verdadeiros vulcões em erupção. O ego desaparecendo, não há tristezas, não há fogo, não há mais inimigos. A fogueira se apaga e no lugar aparece um lindo canteiro de flores.
Abandone tudo o não seja seu, tudo que é emprestado no seu ser e então será capaz de sentir de escutar a voz de Kannon. A coisa que você chama de consciência não é a sua consciência, é um substituto, uma pseudo-consciência, falsa, imitada, limitada.
Abandone-se em Kannon!
E nesse abandonar, seja capaz de enxergar a sua consciência verdadeira que tem lhe esperado, que está lhe aguardando.

Para abandonar o que não é seu e portanto não lhe pertence, apenas sente-se em zazen. Sente-se confortavelmente sem pensar em nada em especial, sem conceituar os pensamentos como bons, agradáveis ou neutros. Apenas sente-se e não queira nada, não deseje nada, não tenha aversão a nada não espere nada. Permita que as coisas sejam apenas o que são. Sente-se apenas. Com esse sentar não existirá mal que o jogue numa fogueira.

Não percam a parte 10. 

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