Parte 11.
“Se perseguido por seres ferozes e jogado do Monte do Diamante,
Pensar no poder de Kannon, Fará com que nenhum fio de cabelo seja tocado”. No Shushogi, texto do mestre Dogen está escrito:
“Repentinamente, ao estarmos de frente para a possibilidade de morrer, governantes, reis, rainhas, ministros e ministras de estado, parentes, servos, companheiras, companheiros, filhos, filhas, jóias raras, não servem para nada. Devemos entrar no campo da morte a sós. Apenas nos acompanha nosso Karma bom ou mau. A lei da causalidade, entretanto, é ao mesmo tempo clara e impessoal. Os que fazem o mal inevitavelmente descendem e os que fazem o bem inevitavelmente ascendem”
Em outro trecho está escrito:
“Compreenda que você só tem esta vida, não duas ou três.
Quão lamentável se, infrutiferamente, mantendo pontos de vista falsos, você em
vão errar, pensando que não está cometendo nenhum mal, quando de fato o está
cometendo. Você não poderá evitar a retribuição kármica de seus atos, mesmo que
erroneamente assuma que por não reconhecer sua existência não está sujeito a
eles”.
Da mesma maneira que o Monte Sumi, o Monte do Diamante não
existe, esse monte indica um lugar alto onde você imagina estar seguro. Um
lugar onde as feras da ansiedade, da depressão, da síndrome do pânico, do
estresse repetido, da mania de perseguição, das fobias sociais não consigam
chegar. Esses seres ferozes representam as dificuldades que passamos quando
estamos desequilibrados, a sensação e de que o mundo está tomado de inimigos
que tentam a todo custo nos fazer mal.
Pensar no poder de kannon. Se transformar em Kannon é o
mesmo que estar equilibrado, olhando o mundo como ele realmente é – Maravilhoso
e perfeito.“Se encontrar loucos com espadas querendo feri-lo, pensar no poder de Kannon.
Todos os seres insanos se dirigirão à bondade”.
É importante saber que os kanji com o qual foi escrito esse
sutra, não possuem um só significado, traduzi-lo para uma língua ocidental é
difícil já que todo o seu sentido poético fica enormemente prejudicado.
Em Romanji esses dois versos ficam assim:
“waku hi
aku nin chiku da raku kon go sen nen pi
“waku chi on zoku nyô kaku shu tô ka gai
nen pi
Soku – Quer dizer rapidamente, imediatamente;
Ki – Se produzirá na pessoa; Ji Shin – Compaixão, espírito de compaixão.
Esses versos tratam do espírito, da percepção da mente.
Uma mente não pacificada é terrível. É pior que o veneno de
uma serpente, mais aterrorizante que o ataque de animais ferozes, mais
implacável que um inimigo, mais sorrateiro que um ladrão, mais violento que um
assassino, pior que os acidentes provocados pelo fogo ou pela água.
A humanidade é extremamente egoísta, completamente dominada
por infindáveis desejos. Queremos comer mais, beber mais, nos divertirmos mais.
Ate mesmo no Zendo, queremos nos sentar mais perto da Sensei, ficar mais tempo
ao se lado, desejamos nos colocar num lugar onde possamos escutar melhor seus
ensinamentos, para conseguir esse intento, usamos e abusamos de vários ardis e
estratagemas. Estamos sempre pensando em nosso próprio bem-estar. Se isso
acontece num zendo que dirá na vida de não religiosos.
Como poderemos nos harmonizar, como nos sintonizar com a
vida, como largar esses desejos auto-centrados...
Sempre achamos que merecemos mais, o despertador toca e
queremos ficar mais cinco minutos, alguém nos chama e sempre respondemos: “pêra
aí” ou então “já vou”, fazemos isso porque cremos que o que estamos fazendo é
mais importante do que seja lá o que for.
Sempre que aparece um desejo e eles aparecem o tempo todo, o
corpo atua em função de satisfazer esse desejo, como é impossível satisfazer
todos os desejos de nossa mente, de nosso ego, ficamos tristes, depressivos e
amargurados, mesmo que consigamos satisfazer um ou dois desejos, outras
centenas surgirão.
Durante o zazen podemos nos observar e verificar in locu
quem realmente somos, assim conseguimos perceber que não tem nenhum ser feroz
nos perseguindo, que são existe nenhum louco portando uma espada para
nos ferir.
Kannon está por toda a parte, concentrar-se sobre o poder de
Kannon é nada mais nada menos que nos harmonizarmos com o mundo.
Não percam a parte 12.
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