Parte 12.
“Se encontrar sofrimento imposto pelas leis,
A vida para ser executada, Pensar no poder de Kannon,
Faz com que a arma de execução
Se parta em pedaços”.
Este é o sexto acidente. O sofrimento causado pelas leis,
pelo judiciário. Quantos de nós já foram prejudicados pelas leis bancárias, devido
aos seus altos juros e política de cobranças. Quantos receberam um cartão de
crédito sem o terem solicitado. Antigamente o poder imperial era muito forte e
indiscutíveis suas decisões, muitos sofriam injustiças.
No sutra, a lei a que se refere representa o Ego que nos
governa, que reina soberano sobre nós.
A maioria acredita que possui uma substancia, uma entidade,
um Atmam, segundo os Hinduístas, ou uma Alma segundo os cristãos. No budismo
existe a palavra Muga – não existe um ego, não há um eu, não tem Atman, não tem
Alma alguma. Não somos governados pelo poder de um ser supremo, ao morrer nada
levamos, nada deixamos, somente o vir-a-ser continua.
No Sutra do Diamante está escrito:
“Com o conhecimento de minha doutrina, os homens não
sucumbirão ao erro de considerar a idéia de uma ego-entidade, uma
personalidade, um ser, ou uma individualidade separada. Eles tampouco
sucumbirão ao erro de considerar a idéia das coisas como tendo qualidades
intrínsecas, nem mesmo de coisas como destituídas de qualidades intrínsecas. E
por que assim será? Porque se tais homens se permitissem ter suas mentes presas
e apegadas a qualquer coisa, eles estariam considerando a idéia de uma
ego-entidade, uma personalidade, um ser, ou uma individualidade separada; e se
eles se vissem presos e apegados à noção das coisas como tendo qualidades
intrínsecas ou destituídas de qualidades intrínsecas, eles [certamente]
estariam considerando a idéia de uma ego-entidade, uma personalidade, um ser,
ou uma individualidade separada”
A frase Nenpi kannon Riki várias vezes repetida no sutra nos direciona a
percebemos a vida como ela é - mutável.
“Se aprisionado, encurralado, acorrentado,
Pernas e braços algemados, Pensar no poder de Kannon,
O libertará completamente”.
Mais uma vez nos deparamos com a dificuldade de traduzir os
matizes dessas palavras.
O verso em Romanji é assim:Waku Shu kin Ka Sa
Shu Shoku Hi
Nenpi Kannon Riki
Shaku Nen Toku Ge Datsu
Shu kin ka Sa – o corpo preso por uma argola;
Shu Soku Hi
Essas duas frases designam que vivemos presos, atados,
algemados, seja por um emprego que detestamos, por morarmos num lugar que não
gostamos, uma esposa que nos faz infelizes, uma doença terminal, dificuldades
financeiras etc.
A vida dos que estão verdadeiramente algemados é pesada, um
pesado fardo a ser carregado dia e noite.A vida de um monge zen é muito mais leve. Um ditado japonês diz: “o gato, o idiota e o monge zen sempre estão tranqüilos e felizes”
Conheço alguns monges que ainda não conseguiram atravessar o
portal do desapego, são orgulhosos de sua condição de senpai (mais antigo), de
morar mais perto da Sensei, consideram que por passarem mais tempo com ela, mais
merecem. Estar apegado seja ao que for é ruim, é um grilhão que
prende aquele que possui o apego. Essas algemas nos afastam da possibilidades,
das oportunidades.
Como bem declara o famoso verso:
“O-kesa preto,Cabeça raspada,
Vida fácil...”
Mesmo que se você possua propriedades, bens móveis e imóveis
etc., a mente deve estar livre de apegos, livre de correntes que possam te
prender. Não corra atrás da felicidade, a felicidade não tem forma, não possui
categorias, todos que a buscam estão de pés e mãos atadas como diz o verso do
sutra.
Fazer zazen, estudar e entender os sutras, manter os
preceitos, levar uma vida ética, automaticamente nos liberta desses grilhões do
ego.
Mas como cortar os desejos...
Afastando-nos das pessoas de vida incorreta, evitando a poluição visual e sonora, comendo e bebendo espartanamente, nos contentando com pouco. Com uma vida mais simples, discutiremos menos, nos aborreceremos menos, defenderemos menos nossos pontos de vista. O cérebro em repouso pode observar a vida, a natureza, os pássaros etc.
Não percam a parte 13.
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