Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011


Parte 12.

“Se encontrar sofrimento imposto pelas leis,
A vida para ser executada,
Pensar no poder de Kannon,
Faz com que a arma de execução
Se parta em pedaços”.

Este é o sexto acidente. O sofrimento causado pelas leis, pelo judiciário. Quantos de nós já foram prejudicados pelas leis bancárias, devido aos seus altos juros e política de cobranças. Quantos receberam um cartão de crédito sem o terem solicitado. Antigamente o poder imperial era muito forte e indiscutíveis suas decisões, muitos sofriam injustiças.
No sutra, a lei a que se refere representa o Ego que nos governa, que reina soberano sobre nós.

A maioria acredita que possui uma substancia, uma entidade, um Atmam, segundo os Hinduístas, ou uma Alma segundo os cristãos. No budismo existe a palavra Muga – não existe um ego, não há um eu, não tem Atman, não tem Alma alguma. Não somos governados pelo poder de um ser supremo, ao morrer nada levamos, nada deixamos, somente o vir-a-ser continua.

No Sutra do Diamante está escrito:
“Com o conhecimento de minha doutrina, os homens não sucumbirão ao erro de considerar a idéia de uma ego-entidade, uma personalidade, um ser, ou uma individualidade separada. Eles tampouco sucumbirão ao erro de considerar a idéia das coisas como tendo qualidades intrínsecas, nem mesmo de coisas como destituídas de qualidades intrínsecas. E por que assim será? Porque se tais homens se permitissem ter suas mentes presas e apegadas a qualquer coisa, eles estariam considerando a idéia de uma ego-entidade, uma personalidade, um ser, ou uma individualidade separada; e se eles se vissem presos e apegados à noção das coisas como tendo qualidades intrínsecas ou destituídas de qualidades intrínsecas, eles [certamente] estariam considerando a idéia de uma ego-entidade, uma personalidade, um ser, ou uma individualidade separada” A frase Nenpi kannon Riki várias vezes repetida no sutra nos direciona a percebemos a vida como ela é - mutável.

“Se aprisionado, encurralado, acorrentado,
Pernas e braços algemados,
Pensar no poder de Kannon,
O libertará completamente”.

Mais uma vez nos deparamos com a dificuldade de traduzir os matizes dessas palavras.
O verso em Romanji é assim:
Waku Shu kin Ka Sa
Shu Shoku Hi Chu Kai
Nenpi Kannon Riki
Shaku Nen Toku Ge Datsu
Shu kin ka Sa – o corpo preso por uma argola;
Shu Soku Hi Chu Kaimãos e pés atados.

Essas duas frases designam que vivemos presos, atados, algemados, seja por um emprego que detestamos, por morarmos num lugar que não gostamos, uma esposa que nos faz infelizes, uma doença terminal, dificuldades financeiras etc.
A vida dos que estão verdadeiramente algemados é pesada, um pesado fardo a ser carregado dia e noite.
A vida de um monge zen é muito mais leve. Um ditado japonês diz: “o gato, o idiota e o monge zen sempre estão tranqüilos e felizes”

Conheço alguns monges que ainda não conseguiram atravessar o portal do desapego, são orgulhosos de sua condição de senpai (mais antigo), de morar mais perto da Sensei, consideram que por passarem mais tempo com ela, mais merecem. Estar apegado seja ao que for é ruim, é um grilhão que prende aquele que possui o apego. Essas algemas nos afastam da possibilidades, das oportunidades.

Como bem declara o famoso verso:
“O-kesa preto,
Cabeça raspada,
Vida fácil...”

Mesmo que se você possua propriedades, bens móveis e imóveis etc., a mente deve estar livre de apegos, livre de correntes que possam te prender. Não corra atrás da felicidade, a felicidade não tem forma, não possui categorias, todos que a buscam estão de pés e mãos atadas como diz o verso do sutra.

Fazer zazen, estudar e entender os sutras, manter os preceitos, levar uma vida ética, automaticamente nos liberta desses grilhões do ego.

Mas como cortar os desejos...
Afastando-nos das pessoas de vida incorreta, evitando a poluição visual e sonora, comendo e bebendo espartanamente, nos contentando com pouco. Com uma vida mais simples, discutiremos menos, nos aborreceremos menos, defenderemos menos nossos pontos de vista. O cérebro em repouso pode observar a vida, a natureza, os pássaros etc.

Não percam a parte 13.

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