O que o Sr. sentiu ao ser reconhecido como o Dalai Lama? O que achou que tinha acontecido com o Sr.?
Sua Santidade o XIV Dalai Lama -
Fiquei imensamente feliz. Gostei muito. Mesmo antes de ser reconhecido,
dizia à minha mãe que um dia eu iria à Lhasa. Eu ficava “montando” o
parapeito de uma janela imaginando que era um cavalo e que eu estava
cavalgando rumo à Lhasa. Eu era bem pequeno nessa época, mas me lembro
muito bem disto. Tinha muita vontade de conhecer a capital.
Outra coisa que não mencionei em minha
autobiografia é que, logo após o meu nascimento, um casal de corvos fez
um ninho no telhado de casa. Todas as manhãs, eles chegavam, permaneciam
por um tempo e iam embora. Foi um fato significativo e eventos
similares aconteceram no nascimento do I, VII, VIII e XII Dalai Lama.
Após o nascimento deles, um casal de corvos vinha e ficava por um tempo.
No meu caso, no início, ninguém deu importância ao fato. Recentemente,
há uns três anos, estava conversando com minha mãe e ela lembrou deste
episódio. Ela observou que os corvos chegavam na parte da manhã e iam
embora após um tempo. O mesmo acontecia na manhã seguinte e assim por
diante.
Na noite após o nascimento do I Dalai
Lama, ladrões entraram na casa da família. Os pais da criança fugiram e a
deixaram para trás. No dia seguinte, voltaram ansiosos para saber o que
tinha ocorrido com o filho e o encontram num canto da casa e ao lado
havia um corvo vigiando e protegendo a criança. Mais tarde, quando o I
Dalai Lama cresceu e desenvolveu sua prática espiritual, durante uma
meditação ele teve contato direto com uma divindade protetora, Mahakala,
que lhe disse: “Alguém como você, que defende os ensinamentos budistas,
precisa de um protetor como eu. No dia do seu nascimento, eu o ajudei”.
Como podemos ver, é óbvio que existe uma ligação entre o Mahakala, os
corvos e o nascimento dos Dalai Lamas.
Outra coisa que aconteceu e que minha
mãe se lembra muito bem é que logo após eu ter chegado à Lhasa, eu disse
que meus dentes estavam guardados numa caixa no Palácio de Norbulinka.
Quando abriram a caixa, encontraram um par de dentaduras que havia
pertencido ao XIII Dalai Lama. Apontei para a caixa e disse que meus
dentes estavam lá dentro, mas não me lembro deste episódio. As memórias
recentes associadas a este corpo físico são mais fortes. O passado se
tornou pequeno, mais vago. A menos que eu me esforçasse muito para
lembrar dessas coisas do passado, mas não me recordo.
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