“Quando a velha ameixeira desabrocha, o mundo inteiro desabrocha.
Quando o mundo desabrocha a primavera chega.
As cinco pétalas desabrocham como uma só flor – três, quatro, cinco, cem, mil, incontáveis flores desabrocham.
... Todas essas flores crescem em um, dois, incontáveis galhos da velha ameixeira.
Uma flor udumbara e uma flor de lótus azul também desabrocham no mesmo galho.
Todas essas flores constituem as graças da antiga ameixeira.
Tal ameixeira antiga cobre os mundos humanos e celestiais. Esses mundos surgem da velha ameixeira. Centenas de milhares de flores são as flores dos seres humanos e celestiais.
Milhões de flores são as flores dos Budas e Ancestrais do Darma. Quando essa espécie de ameixeira desabrocha, todas e todos os Budas surgem neste mundo e Bodidarma se manifesta.” (Shobogenzo Baige – Mestre Eihei Dogen)
Que ameixeira antiga é essa? O universo inteiro contido em uma pétala suave, delicada, branca, macia, perfumada. Cada pétala um universo completo. Um novo ano/ciclo se anuncia.
Renovação da vida. O ano novo era marcado pelo despertar da Primavera depois das neves de inverno no Hemisfério Norte. Mantemos a tradição, embora estejamos aqui em meio ao nosso inverno sem neve, onde cada raio de sol é o desabrochar da vida em sua plenitude de transformação contínua.
Rituais e datas são meios expedientes para nos lembrar que cada instante é sagrado e jamais se repete. Como vivemos nossas vidas? Agradecemos cada experiência ou reclamamos incessantemente? O que fazemos em relação ao que nos indigna? Podemos transformar a raiva em ação amorosa, podemos compreender e agir com ternura, podemos nos tornar suaves e fortes, sem medo e sem obstáculos, percebendo em cada dificuldade um portal de entrada para essa pequena e sutil mudança que pode mudar toda a vida no planeta – a Compaixão.
Se desvendarmos nosso olhar sagrado que protege, guarda e mantém o Darma Correto poderemos sorrir o sorriso de Buda e reconhecer a nossa íntima irmandade com todos e todas as Ancestrais do Darma.
A ameixeira desabrochando na neve é a manifestação da flor udumbara, escreve Mestre Dogen:
“Temos a oportunidade de ver o Correto Darma em nossa vida diária, mas muitas vezes perdemos a oportunidade de sorrir e mostrar nossa compreensão”.
Na primeira transmissão histórica, Xaquiamuni Buda ao invés de falar para uma grande assembleia manteve-se silencioso. Levantou a flor udumbara, piscou os olhos e sorriu. A grande maioria nada entendeu, mas Makakasho, seu discípulo, olhou para o Mestre e sorriu de volta. Então Buda disse:
”Eu possuo o Olho Tesouro do Correto Darma e a Maravilhosa Mente de Nirvana (Shobogenzo Nehan Myoshin) e agora o transmito a você, Makakasho.”
O desabrochar da velha ameixeira, o renascer da vida em cada pequenina flor, é a transmissão do Darma. É a Primavera. É o raio de sol refletindo as folhas verdes como joias preciosas. É o novo ano. Momento de transformação, época de transmissão.
Que possamos sorrir e compreender tanto o silêncio, quanto a palavra.
Que possamos manifestar em nosso falar, agir e pensar a Verdade Perfeita que
incansavelmente, explicitamente, nos mostra o Caminho Iluminado.
Este novo ciclo pode se tornar a flor udumbara, a flor de lótus da Lei Maravilhosa, a mente de tranquilidade sábia, o Correto Darma se manifestando. Depende de cada um de nós.
Que possamos sentir a suave fragrância das delicadas pétalas em nossos gestos, pensamentos, palavras e nos renovemos através da ternura sábia, da compaixão infinita, da sabedoria suprema, abrindo nossas mentes e corações para o encontro, o compartilhamento, a capacidade de ouvir e falar a partir da grande intimidade com a essência da vida.
Monja Coen
(texto: “Ano Buda 2572”, adaptado para a primavera do ano Buda 2577=2011 EC)
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