Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sutra do Coração - parte 3

Sutra do Coração.
Parte 3



Este Sutra é muito importante em razão de toda a disciplina moral e intelectual budista ter como meta capacitar ao homem chegar a ter posse desse conhecimento, auge maior do conhecimento humano e garantia da definitiva liberação da cadeia de renascimentos e da obtenção do Nirvana.


O Sutra do Coração da Sabedoria é um dos menores dentre os Sutras da Prajnaparamita. Trata-se de uma resumida exposição da doutrina central de toda a coleção, uma espécie de compacto dos melhores momentos.


O Sutra é recitado sistemática e diariamente em todos os locais de prática Budista da Escola Mahayana. Tanto o texto do Sutra em Chinês, e em Sãncrito já foram traduzidos em quase todas as línguas civilizadas do mundo.




Este é o Sutra em português (tradução da Monja Coen).



Quando Kanzeon Bodisatva praticava em profunda Sabedoria Completa, claramente observou (sino) o vazio dos cinco agregados. Assim se libertando de todas as tristezas e sofrimentos.


Oh! Sarishi!


Forma não é mais que vazio. Vazio não é mais que forma. Forma é exatamente vazio. Vazio é exatamente forma.


Sensação, conceituação, diferenciação, conhecimento. Assim também o são.


Oh! Sarishi!


Todos os fenômenos são vazio-forma. Não nascidos, não mortos, não puros, não impuros, não perdidos, não encontrados. Assim é tudo dentro do vazio.


Sem forma, sem sensação, conceituação, diferenciação, conhecimento;


Sem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente. Sem cor, som, cheiro, sabor, tato, fenômeno. Sem mundo de visão, sem mundo de consciência. Sem ignorância e sem fim à ignorância. Sem velhice e morte e sem fim à velhice e morte. Sem sofrimento, sem causa, sem extinção e sem caminho. Sem sabedoria e sem ganho. Sem nenhum ganho.


Bodisatva devido à Sabedoria Completa.


Coração-Mente sem obstáculos. Sem obstáculos, logo, sem medo. Distante de todas as delusões,


Isto é Nirvana.


Todos os Budas dos Três Mundos, devido à Sabedoria Completa


Obtêm Anokutara San Myaku San Bodai. Saiba que Sabedoria Completa, é expressão de grande divindade. Expressão de grande claridade. Expressão insuperável. Expressão inigualável, com capacidade de remover todo o sofrimento.


Isto é verdade não é mentira!


Assim, invoque e expresse a Sabedoria Completa,


Invoque e repita:


Gya te gya-te (vá além, tendo ido)


Há ra gya-tei (vá além, tendo ido)


Hara so gya-te (vá além do além, tendo ido além do além)


Bo-dhi-sowa-ka (para a outra margem, da iluminação)


Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa.





Comentários pessoais:


Neste momento, gostaria de deixar claro que este é meu entendimento pessoal.
Esses comentários, observações e entendimentos não representam obrigatoriamente o pensamento da tradição Soto Zen Shu.



“Quando Kanzeon Bodisatva praticava em profunda sabedoria completa”


O prólogo do Sutra completo da Prajnaparamita inicia com Shariputra perguntando ao Budha como fazer para praticar a Perfeição da Sabedoria e o Budha, por sua vez, solicita a Avalokitesvara para explicar detalhadamente a Shariputra.


“Assim ouvi. Certa vez, o Abençoado, juntamente com vários dos maiores Bodisatvas e um grande número de monges, se encontrava em Rajagaha, na montanha dos abutres monte. O Abençoado estava em profunda meditação e o nobre Kanzeon meditava sobre o profundo Prajaparamita e, sendo perguntado, responde...”


No início do Sutra um observador atento poderá perceber que quando (Kwan Yin – em chinês, Quan Am em coreano e Kannon ou Kanzeon em japonês) um bodisatva que representa a manifestação do amor infinito e da insuperável compaixão de Budha se encontra praticando Prajnaparamita, ele não somente se encontra sentado em meditação, ele na verdade é a personificação da meditação, ele e a meditação são um, não há diferença entre ele o estado meditativo, não há diferença entre ele e o mundo, ele está inserido na paisagem.



“claramente observou o vazio dos cinco agregados assim se libertando de todas as tristezas e sofrimentos”


Os cinco agregados ou Skandas são:


1o A matéria: Designam sob esse termo os quatro elementos tradicionais que simbolizam a terra, a água, o fogo e o ar, com seus respectivos estados: sólido, fluido, calórico e de movimento. Os derivados desses quatro elementos correspondem, em nosso ser, aos nossos órgãos dos sentidos, com suas respectivas faculdades: visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil e mental, sendo que os objetos do mundo exterior correspondentes são as formas visíveis, os sons, os odores, as coisas tateáveis e os pensamentos, idéias e concepções. 


2o As sensações: São todas as sensações agradáveis, desagradáveis ou neutras que sentimos mediante o contato dos nossos órgãos físico e mental em relação ao mundo exterior. Na verdade as sensações não são nem boas nem más, a atitude mental de cada pessoa, condicionada pela família, sociedade, escola, costumes etc. é que assim as condiciona. 


3o As percepções: São as impressões causadas pelos órgãos dos sentidos reconhecendo os objetos físicos e mentais, tanto nas suas características físicas, como pelas impressões mentais. Esta percepção, que é o conjunto das características de forma, odor, sabor, volume e peso é que nos permite reconhecemos os objetos do mundo. 


4o As formações mentais: Proporcionam as condições necessárias através da qual, o conhecimento ou consciência possam “enxergar” a existência. Os elementos básicos são: à vontade (voluntária ou involuntária), a atenção e o contato. A vontade com a presença da atenção, coloca o corpo e o objeto numa determinada direção para que possa haver o contato, i.e. se existe algo para ser visto, luz suficiente, olhos para ver, estabelece-se o contato visual produzindo uma formação visual, o mesmo se dá com os outros órgãos dos sentidos.


5o A consciência: Ou conhecimento é uma reação ou resposta às seis faculdades (visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil e mental) que tem por objeto os fenômenos exteriores correspondentes (formas visíveis, sons, odores, etc.). Sempre que se estabelece um contato com o corpo e o mundo exterior, vem a existência os elementos imateriais, i.e. a sensação, a percepção, as formações mentais e a consciência correspondente.


O Buddha na sua incomparável sapiência comparou o universo a uma vasta rede composta por uma infinita variedade de jóias brilhantes, cada uma delas com um número incontável de facetas, sendo que cada jóia reflete em si mesma o brilho de todas as outras (rede de Indra). Tomemos um exemplo prático que nos ajudará na compreensão da frase do texto.


Vamos imaginar uma onda no mar. Essa onda vista de uma certa maneira, parece ter uma identidade distinta, um começo e um fim, um nascimento e uma morte. Vista de outro modo (prajna - sabedoria), essa onda não existe. É apenas o comportamento da água.


A onda é "vazia" de uma identidade separada, mas "cheia" de água. Assim, quando pensamos a respeito de uma onda, através da lógica percebemos que se trata de algo que se tornou temporariamente possível por fatos e circunstâncias permanentemente mutáveis. Também é fácil perceber que cada onda está relacionada com todas as outras ondas. Observando com a mente desprovida de prévios conceitos, podemos notar que a onda não possui qualquer existência própria, e essa ausência de existência independente é o que o Sutra chama de "vacuidade" (sunyata – Ku).


Se alguém segurar um copo cheio de água até a borda e perguntar, "Este copo está vazio?", todos dirão "Não, ele está cheio de água". Se esse alguém jogar fora toda a água e perguntar novamente, todos responderão "Sim, ele está vazio". Mas, vazio de quê ?...


Essa é a principal questão enfocada no Sutra. Vazio significa “vazio de alguma coisa”. O copo não pode estar “vazio de nada”. "Vazio" não tem significado a não ser que você saiba do que ele está vazio. Meu copo está vazio de água, mas não está vazio de ar. Estar vazio é estar "vazio de alguma coisa". Quando Kanzeon declara que os cinco agregados são vazios, ele o faz para nos ajudar a compreender o texto.


Quando Kanzeon olhou profundamente, sem conceitos, nem pré-conceitos, dentro da natureza dos agregados, de repente, percebeu que todos eles eram vazios. E, antes que alguém perguntasse "Vazios de quê? ele responde. "Eles são vazios de um self separado, de uma existência inerente de um ego. Isto quer dizer que nenhum dos cinco agregados pode existir sozinho, por si mesmo. Cada um dos agregados tem de ser produzido pelos outros quatro. Eles têm de co-existir, eles têm que se interrelacionar.


Quando Kanzeon, (o Bodisatva que escuta os sons do mundo, seus lamentos, suas dores, seus sofrimentos e suas preces) tudo observou, de forma clara, sem conceitos, sem dualidade. Quando ele se identificou com o mundo, quando se situou além do pensar e do não pensar, quando se integrou ao todo, percebeu que esses agregados ou Skandas são totalmente vazios de substância inerente, de personalidade, de individualidade. De posse de todo esse conhecimento se libertou de todos os sofrimentos, pois conseguiu ver as coisas como elas são, e ver as coisas como elas são é acabar com o sofrimento.


Não que não exista o sofrimento, simplesmente não existe mais o sofredor, Não existe mais a diferenciação de bom, ruim ou indiferente. Todas as coisas são como são e, completamente perfeitas da maneira que são.


Não deixem de ler a parte 4.

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